O ambiente de prática de enfermagem (APE) é fundamental para o sucesso dos sistemas de saúde (Almeida et al., 2020), relacionando-se com a satisfação profissional, com a efetividade, segurança e qualidade dos cuidados, bem como com a eficiência das organizações (Carvalho & Lucas, 2020; Lake, 2002; Lucas & Nunes, 2020; Ying et al., 2021). Segundo Lake (2002), o APE é definido como as características organizacionais de um contexto de trabalho que facilitam ou constrangem a prática profissional dos enfermeiros. A presença dos atributos organizacionais, sobretudo a autonomia, o controlo sobre o ambiente e a colaboração entre os profissionais de saúde, faz com que os ambientes de prática em enfermagem sejam benéficos ao desenvolvimento dos cuidados, contribuindo para melhores resultados para os clientes, profissionais de saúde e para a própria instituição, sendo determinante da segurança e qualidade dos cuidados prestados (Aiken et al., 2011; Anunciada & Lucas, 2021; Jesus et al., 2015; Neves et al., 2019). A adequação de recursos humanos é um dos fatores determinantes dos APE, sendo crucial dotar as equipas com o número de profissionais adequado e com as competências técnico-científicas necessárias para a prestação de cuidados de enfermagem seguros e de qualidade (Freitas, 2015; ICN, 2006; Neves, 2019; Smith, 2019). A escassez de enfermeiros e a elevada rotatividade representam, por isso, um problema para as organizações e para os sistemas de saúde, com impacto nos custos, na capacidade de resposta, nas práticas de cuidados de enfermagem e na qualidade em saúde (McDermid et al., 2020). A intenção dos enfermeiros de sair da profissão, também designada por intenção de rotatividade externa, decorre de múltiplos fatores como a valorização do contexto de trabalho, a satisfação com a enfermagem e com a organização, bem como de variáveis sociodemográficas e profissionais (Poeira, 2017).O APE é identificado, também, como passível de influenciar a rotatividade dos enfermeiros nas organizações de saúde, sendo fundamental a sua monitorização, por forma a ajudar os enfermeiros gestores nos processos de tomada de decisão, com vista a melhorar os resultados dos cuidados de enfermagem (Chen et al., 2019). Por outro lado, o APE influencia o desempenho, o burnout e a retenção de profissionais e, subsequente, os resultados dos cuidados e o desempenho organizacional (Aiken et al., 2012; Liu et al., 2018; Wei, Sewell, Woody, & Rose, 2018). Elevada rotatividade nos contextos clínicos implica a integração frequente de novos profissionais, menos adaptados aos processos de trabalho, o que aumenta o risco de ocorrência de erros (Baird et al., 2017; Labrague et al., 2018; Miedaner et al., 2018; Piers et al., 2019).Neste enquadramento, pese embora a segurança do doente seja uma responsabilidade multiprofissional, os enfermeiros desempenham um papel chave no desenvolvimento de cuidados de saúde seguros, uma vez que, para além da prestação direta da maior parte dos cuidados de saúde, particularmente em contexto de internamento, gerem muitos dos fatores ambientais, asseguram a continuidade dos cuidados, articulam a sua atividade com os diversos profissionais, assumindo um importante papel na integração e coordenação de cuidados (Benner et al., 2002; ICN, 2006; Page, 2004).Diferentes estudos apontam para as transformações que se observavam no ambiente de trabalho dos enfermeiros e do potencial risco que estas comportam na segurança dos doentes, alertando para a necessidade de se estudar as circunstâncias que envolvem a ocorrência de eventos adversos (Aiken et al., 2002; ; Malinowska-Lipień et al., 2021; Neves et al., 2021; Rodríguez-García et. al., 2023). Do estudo espera-se um e diagnóstico que permita uma compreensão do problema, contribuindo para a identificação de oportunidades de melhoria e para sustentar a tomada de decisão dos gestores e decisores políticos, com vista à criação de ganhos em saúde.
As alterações sociodemográficas e epidemiológicas, decorrentes do envelhecimento e do aumento de doenças crónicas e das multicomorbilidades, traduzem-se num número crescente de Pessoas dependentes que recorrem a UCCI. Os ambientes de práticas de enfermagem têm sido identificados como fatores determinantes, direta e indiretamente, dos resultados em saúde. Ambientes favoráveis tendem a ser associados, a práticas de cuidados seguras e a menor risco e ocorrência de eventos adversos. Em Portugal, estudos em contexto hospitalar têm evidenciado que os enfermeiros percecionam os ambientes de trabalho como desfavoráveis, sobretudo ao nível da adequação de recursos humanos e materiais, bem como das oportunidades de desenvolvimento profissional.Não obstante, em Portugal, existe uma lacuna de conhecimento acerca dos ambientes de práticas e da sua influência na segurança, em organizações prestadoras de cuidados a pessoas dependentes, particularmente nas unidades da rede nacional de cuidados continuados integrados.Neste enquadramento, considera-se essencial analisar estes contextos organizacionais, para promover uma caracterização diagnóstica que permita apoiar os gestores e decisores políticos nos processos de tomada de decisão
objetivo geral: analisar a influência dos ambientes de práticas na segurança dos cuidados de enfermagem, em organizações de cuidados a pessoas dependentes.
Como objetivos específicos:- Analisar a perceção dos enfermeiros acerca dos ambientes de práticas dos cuidados deenfermagem em organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Caracterizar as dotações de enfermagem, em número e competência, em organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Analisar a intenção de mudança de profissão e valorização do contexto de trabalho em enfermeiros de organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Analisar a perceção dos enfermeiros acerca das práticas de enfermagem em organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Analisar a perceção dos enfermeiros acerca do risco e ocorrência de eventos adversos em organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Analisar a influência dos ambientes de práticas na segurança dos cuidados de enfermagem, em organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Analisar a influência de fatores estruturais e individuais na intenção de mudança de profissão dos enfermeiros de organizações de cuidados a pessoas dependentes;- Avaliar o impacto de fatores estruturais e individuais, nas práticas de enfermagem e no risco e ocorrência de eventos adversos associados às práticas de enfermagem, em organizações de cuidados a pessoas dependentes;
O ambiente de prática de enfermagem é fundamental para o sucesso dos sistemas de saúde (Almeida et al., 2020), relacionando-se com a satisfação profissional, com a efetividade, segurança e qualidade dos cuidados, bem como com a eficiência das organizações (Carvalho & Lucas, 2020; Lake, 2002; Lucas & Nunes, 2020; Ying et al., 2021). Espera-se com estes estudos criar melhores ambientes de práticas aos cuidados a Famílias com pessoas dependentes no autocuidado.
Não foi previsto o envolvimento de cidadãos.
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22/12/2024
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Families that include individuals dependent in self-care: care organization and management
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