Estudos da História e da Epistemologia das Ciências da Saúde e da Enfermagem numa perspetiva transdisciplinar, interdisciplinar e disciplinar.
O estudo da História de Enfermagem importa para o entendimento do caminho da construção da identidade profissional e da autonomização do conhecimento específico. Esse conhecimento resultante de um movimento de translação em espiral, entre conhecimento público e privado, no âmbito de uma epistemologia da prática, origina um saber próprio, historicamente construído, que se diferencia de outros saberes (Queirós, 2014). Também para Monteiro (2014), é possível estabelecer um eixo aglutinador que define a identidade científica das ciências de enfermagem. A enfermagem encerra na sua história um profundo sentido da ética humana, no sentido epistemológico e antropológico do termo. Esta, instituída em sua prática académico-profissional, emprega iniciativas de educação voltadas ao conhecimento em seu campo específico e para o contexto histórico-social em transformação. Desse modo, se insere em diferentes espaços, onde o cuidado é necessário e onde foi e é possível a construção de saberes, que ao longo do tempo foi adquirindo respaldo em busca da cientificidade. (Peres, Filho & Paim, 2014).
Os estudos da História da Ciência em Portugal, entre outros, de Fiolhais e Martins (2010); Fiolhais, Simões e Martins (2013a; 2013b); Pita (2009); Pereira e Pita (2006); Borges (2009), darão os seus contributos para o entendimento destes processos. Na abordagem da visibilidade da enfermagem, importa considerar os estudos sobre o evoluir do ensino e das instituições de formação, efetuados por Costa (1998), Amendoeira (2006), Abreu (2001), Nunes (2009) e Soares (1997).
No século XIX, a ciência surge como fonte de todos os valores possíveis e o salvatério de todas as insuficiências e dificuldades humanas (Homem, 1989, 1990). É à luz desta nova religião positivista que terá de ser enquadrado o devir cientifico e as polémicas desencadeadas na sociedade, nomeadamente a polémica entre enfermagem laica e religiosa.
Os enfermeiros cuidam de humanos através de uma atividade humana que transporta, cria e recria conhecimento em ação, tendo por base uma racionalidade prático-reflexiva (Medina,1999). Nesse saber tem lugar o padrão empírico, acompanhado por outros padrões de conhecimento em consonância com a complexidade do real. Os enfermeiros, ao facilitarem os processos de transição, fazem-no no palco da vida (Meleis, 1994),fenómeno autoeco-organizador, logo, produtor de autonomia (Morin, 1990), capacitando os humanos para se autocuidarem. A enfermagem com o objetivo de proporcionar não só a saúde mas também o bem-estar, enquanto ciência humana prática (Medina,1999; Strasser, 1985), estrutura-se em conhecimento público e privado (Kim, 2010), entrelaçando os vários padrões de conhecimento em espiral hermenêutica (Bishop A, Scudder J, 1980).. Esta operação ocorre numa lógica não linear, mas de translação (Sobrinho-Simões M, 2012; White K, Dudley-Brown S, 2012) entre a teoria e a prática, a sistematização e a clínica. Neste entendimento, a complexidade, a espiral hermenêutica e a translação são três tópicos com interesse epistémico, no sentido em que podem contribuir para clarificar a questão: Qual o ponto de partida, como se forma, individualiza e qualifica o conhecimento específico em enfermagem?
O contributo para o esclarecimento desta pergunta é relevante para a construção disciplinar, para a identificação do campo específico da enfermagem, enquanto conhecimento científico particular.
Por outro lado, e complementando:
Procurar os vestígios e conhecer os trajetos percorridos até aos dias de hoje é de singular importância para percecionar a identidade, os constrangimentos, os posicionamentos na sociedade, do saber e da ciência de enfermagem, no seio das outras disciplinas científicas. Desde logo, “pertencer a uma profissão é pertencer a uma classe social com um lugar determinado na hierarquia dos poderes reguladores da sociedade” (Collière 1999, p. 16). À interrogação se, para a compreensão do mundo atual, necessitamos do conhecimento da História? Encontramos resposta em Marc Ferro (1981) quando considera que não, se a perspetiva for apenas a reconstrução com objetivo exótico, mas fazendo sentido se o passado for analisado e confrontado com o presente, identificando sobrevivências e roturas. Reside aqui o interesse na procura de pistas para o que somos hoje, no caminho percorrido ao longo dos tempos.
- Produzir, inventariar, recolher e tratar fontes para o estudo de história de enfermagem e das ciências da vida.
- Estudo da história de enfermagem em Portugal e sua contextualização no espaço Europeu e Mundial.
- Estudo da história da profissão de enfermagem no contexto das outras profissões e da evolução dos sistemas assistenciais e de saúde.
- Estudo da evolução do cuidado de enfermagem e a incorporação de tecnologias.
- Análise das continuidades e dissemelhanças na história de enfermagem portuguesa, com a enfermagem noutros países, em relação ao equilíbrio de género masculino/feminino e em relação à dicotomia enfermagem civil (laica)/enfermagem religiosa.
- Aprofundar o estudo da natureza do conhecimento em enfermagem e das condições específicas para a sua criação em Portugal e noutros países.
- Discutir sobre a ciência de enfermagem no contexto das outras ciências em diferentes períodos e países.
- Estudo da história das instituições de saúde e de ensino de Enfermagem.
- Estudos acerca da participação da enfermagem em situações de guerra e calamidades, ao longo dos tempos, em Portugal e noutros países.
- Aprofundar o estudo da natureza específica do conhecimento em enfermagem e da sua evolução ao longo do tempo.
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Ligação a centros de investigação na área da história e da epistemologia das ciências da vida.
Relatórios de progresso:
Elaboração anual de relatório.
01/01/2015
Em desenvolvimento
Education and development of the discipline